Se me mantenho rouca frente aos absurdos, é porque a minha voz não cessa. E acordo lúcida, cansada, diria, exausta e os sobressaltos do tempo são muitos: estoy bien estoy bien, dizias-me. À parte disso, amanhece o dia e vejo a luz invadir o espaço no qual me encontro. E entra entra altíssima e forte. É preciso estar aberta para permitir que algo entre pela fresta causada por anos de absurdos. Que esse algo seja um fiapo de luz, um fiapo que seja. Sem se deixar cair em buracos cravados a cada passo dado. A fragilidade do corpo – mas nunca da alma – e uma busca incessante do manter-se sã e disposta a caminhar sob inumeráveis questionamentos. A traçar rotas e saídas possíveis. Possíveis. Pulando em poças d’água, ansiando ver o que veem os pássaros e as formigas e os que não são vistos por serem considerados pequenos. Enxergando reflexos de uma vida mais digna e pulsante. Que a tristeza não cessa, mas a alegria espreita a janela, a fim de acordar o primeiro que se dispuser a olhar o horizonte. A luz entra torta, cito Matilde Campilho: “A luz entrou torta por nós adentro”. Talvez seja assim que nos compreendemos sem nos compreendermos – únicos –, daí as potencialidades de ser humano. Se me mantenho rouca frente aos absurdos, é para me certificar que por trás da cortina em frangalhos, e da escuridão que submerge, existe algo que vale a pena, existe algo que vale a pena, existe. A minha vida e a tua vida. E a luz que não cessa de adentrar torta por nós adentro.
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